sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Migração e Saúde

Quem aqui já pensou em ser imigrante? Quem aqui pensa na sua saúde enquanto imigrante?

Um dos temas importantes para os pesquisadores na área da saúde pública mundial são as migrações, principalmente as internacionais. Em 2007, ano em que Portugal esteve na presidência do Conselho da União Europeia, um dos temas tratados foi a saúde dos migrantes através da realização da Conferência “Saúde e Migrações na União Europeia”. Muitos outros estudos e pesquisas têm sido feitos nessa área em diversos países.




Migração e saúde são dois conceitos de áreas de estudo diferentes e existem tantos modos de se olhar para esses dois conceitos e, ainda mais, sobre esses dois conceitos juntos. E vocês me perguntam: o que é que a imigração tem a ver com a saúde? Tem tudo a ver! E quando eu falo de saúde, não estou falando só do acesso aos serviços de saúde porque esta é apenas uma parte da “saúde”.


Podem ser vários os motivos pelos quais uma pessoa decide mudar de país, não é mesmo? Todas nós que escrevemos aqui somos ou já fomos imigrantes em outro país e cada uma tem a sua história e o seu motivo. Quando deixamos o nosso país, muitas coisas ficam para trás: muitas vezes as famílias se separam, deixamos os amigos, o trabalho, tudo que é a nossa cultura, etc. Migrar se traduz numa espécie de luto que temos que elaborar e que pode causar algum sofrimento. Porque no novo país tudo vai ser, mesmo, novo!


Uma migração internacional pode causar algumas alterações na saúde de uma pessoa. Essas alterações podem ser diversas e variam de pessoa para pessoa. E porque? Porque tem a ver com vários fatores como, por exemplo, de que país a pessoa sai e em que condições, para qual país a pessoa vai e quais as condições que o novo país de residência oferece, além de outros fatores. E algumas pessoas, para se adaptar, acabam alterando comportamentos relacionados à saúde. Mas claro que nem todas as pessoas terão problemas e desenvolverão alguma doença. Alguns até podem sentir uma saúde melhor depois da mudança.


Recentemente vocês leram o texto da Allane e o texto da Luciana falando sobre depressão de inverno. Por exemplo, quem saiu de regiões quentes no Brasil e está vivendo em regiões mais frias, em países onde o inverno é mais rigoroso, costuma sentir muito essa diferença no clima. O clima pode influenciar a nossa saúde e cada pessoa sente de uma determinada maneira. Mas não é só isso…


Existem diversos aspectos para se analisar neste contexto. Primeiro, como é a saúde da pessoa no seu país de origem? Tem uma vida equilibrada, vive num meio ambiente saudável, pratica atividade física, tem trabalho, tem família e suporte social, etc? Quais as condições da pessoa que pensa em ser imigrante? Todos esses fatores são importantes para a saúde em geral e para a percepção que cada um tem da sua própria saúde.


Que condições os países que acolhem imigrantes oferecem para essas pessoas, além das políticas direcionadas para os imigrantes? Já pensou nisso? Por exemplo, uma pessoa quando é imigrante num outro país pode enfrentar o desemprego e não falar a língua do novo país de residência. Quando encontra emprego, às vezes para conseguir pagar todas as despesas e ter algum dinheiro sobrando, acaba trabalhando muito mais horas que trabalharia no seu próprio país, e assim, não tem tempo para o lazer, o que acaba sobrecarregando a sua saúde.


Numa pesquisa que fiz entre 2009 e 2013 com 120 imigrantes brasileiros em Portugal, 31% considerou que a sua saúde estava pior em Portugal. Mas, nem tudo é mau e 12% considerou que a saúde estava melhor depois da mudança.


Quanto aos serviços de saúde, também podem existir algumas dificuldades. Para quem vive no Brasil existe o SUS. Pode ter problemas e não funcionar como todos gostariam mas, você não tem que pagar pelo atendimento!  Ahhh... Você vai dizer que já pagou impostos, não é mesmo? Pois é mas, em muitos países do mundo você paga impostos e também tem que pagar pela saúde.


Geralmente os imigrantes não têm conhecimento do modo de funcionamento dos serviços de saúde no novo país o que dificulta a sua relação com o mesmo. Alguns imigrantes, quando estão em situação migratória irregular, têm medo de procurar os serviços de saúde. E também existem diferentes serviços de saúde nos vários países do mundo como a Mônica já escreveu aqui sobre os Estados Unidos e a Georgina já escreveu aqui sobre o Chile .


Em alguns casos, simplesmente não há serviço público de saúde fazendo com que todas as pessoas tenham que ter algum seguro/plano de saúde ou ter dinheiro para arcar com as suas necessidades nesta área. Não falar a língua do país em que se mora também é uma barreira para uma boa comunicação, principalmente com os profissionais de saúde. Por isso, a migração exige do imigrante bastante capacidade de resiliência e adaptação.


Então, vamos combinar uma coisa. Se você que está lendo este texto pensa em ser imigrante internacional, lembre-se! No novo país: aprenda a língua local, faça amigos, converse com as pessoas para saber como funcionam os diversos serviços e, principalmente, não julgue a partir do conhecimento que tem do seu país. Cada país tem a sua história, a sua cultura e a sua legislação.


Além do que já falei, tente manter uma vida equilibrada, pratique alguma atividade física de que goste, procure se integrar no novo país em que for morar, conheça a história e a cultura do lugar, faça amigos, aproveite os dias de sol e principalmente, seja positivo. Em todos os lugares do mundo há coisas boas e ruins. Aproveite tudo de bom que a vida dá a você.


Faça o que for possível pelo bem da sua saúde física e mental. Melhor cuidar da saúde enquanto pode do que ter que cuidar da doença, não é mesmo?


PS. Este texto foi adaptado do texto original escrito por mim e publicado em março de 2015 no blog Brasileiras pelo Mundo. O texto original está disponível aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário